O tratamento cirúrgico do câncer ósseo na criança é um desafio para os ortopedistas há muitos anos. Sendo assim, diversas técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas a fim de evitar as cirurgias de amputação. Essas novas técnicas foram chamadas de cirurgias preservadoras ou salvadoras de membro e uma das que mais tem sido utilizada nos últimos anos é a cirurgia de congelamento ( crioterapia) no nitrogênio líquido.
Tumores ósseos malignos mais comuns na infância e adolescência
O osteossarcoma e o sarcoma de Ewing são os tumores ósseos malignos mais comuns em pacientes de 5 a 25 anos de idade. Sintomas como dor e aumento de volume no local afetado geralmente levam a suspeita e ao diagnóstico. O controle da doença é feito através de sessões de quimioterapia seguidas de cirurgia de retirada do tumor e mais sessões de quimioterapia.
Esses tumores, na maioria das vezes, desenvolvem-se na medular do osso ( tutano do osso ) e vão crescendo, causando destruição da cortical óssea ( casca do osso ) e contaminação das partes moles ( músculos, tendões ) ao redor do osso. O tamanho do tumor pode chegar a mais de 10 cm no maior diâmetro.
Cirurgias de reconstrução – câncer ósseo na criança
Após a retirada do tumor são necessárias reconstruções do defeito criado para preservar a função e vitalidade do membro. Atualmente as reconstruções podem ser feitas principalmente através de próteses especialmente desenvolvidas para tratamento dos tumores ou através de enxertos ósseos de cadáver fornecidos pelos Bancos de Ossos, por exemplo. Essas técnicas podem ter complicações como quebra ou soltura da prótese ou alteração do comprimento dos membros após o crescimento da criança.
Cirurgia preservadora de membro através de congelamento do osso no nitrogênio líquido
Na tentativa de solucionar esses problemas foi desenvolvida uma técnica mais biológica que reutiliza o próprio osso do paciente para a reconstrução do defeito através da crioterapia, ou seja, congelamento pelo nitrogênio líquido a -196º C.
Essa técnica foi desenvolvida e aprimorada no Japão pela equipe do Dr Tsuchiya, uma vez que, muitas vezes, não era possível utilizar o banco de ossos por motivos religiosos nesse país. Portanto, os japoneses demonstraram através de diversos trabalhos in vitro e in vivo que o nitrogênio líquido é capaz de erradicar as células do tumor no osso afetado, permitindo que esse osso seja utilizado para a reconstrução. Após o preparo do osso e congelamento no nitrogênio líquido, ele é recolocado no paciente e fixado com placas e parafusos.
Assim surgiu mais uma técnica de cirurgia preservadora de membro que é popularmente conhecida como “frozen autograft” : ressecção tumoral e reconstrução biológica com enxerto ósseo autólogo congelado em nitrogênio líquido. Há vários anos essa técnica tem se mostrado uma solução simples e eficaz, sendo aplicada em casos selecionados em diversos estados do Brasil.
Converse com seu médico para saber mais sobre essa técnica e se ela pode ser realizada no seu caso.
Dra Juliane Comunello
Ortopedia e Traumatologia
Oncologia Ortopédica
CRM 172636
Referências:
Tsuchiya H., Nishida H., Srisawat P., et al. Pedicle frozen autograft reconstruction in malignant bone tumors. Journal of Orthopaedic Science. 2010;15(3):340–349. doi: 10.1007/s00776-010-1458-0. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]
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Epiphyseal Sparing and Reconstruction by Frozen Bone Autograft after Malignant Bone Tumor Resection in Children
Ahmed Hamed Kassem Abdelaal, 1 , 2 , * Norio Yamamoto, 1 Katsuhiro Hayashi, 1 Akihiko Takeuchi, 1 Shinji Miwa, 1 and Hiroyuki Tsuchiya 1